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Cada pessoa terá medicação apropriada ao seu corpo"

O biofísico Michel Goldberg, dos seus 75 anos de vida, 40 foram dedicados à biotecnologiaO biofísico Michel Goldberg, dos seus 75 anos de vida, 40 foram dedicados à biotecnologia




As pesquisas científicas em biotecnologia, realizadas pelo Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Ice/UFRN), tem despertado a curiosidade internacional. Um dos grandes nomes no desenvolvimento da biotecnologia, o biofísico Michel Goldberg, 75 anos, veio a Natal esta semana especialmente para conhecer os projetos desenvolvidos pelo Instituto na  área. De uma forma simples, o pesquisador define a biotecnologia como a aplicação da biologia na ciência.

De início, o termo biotecnologia pode até assustar. No entanto, suas aplicações são mais presentes e antigas do que se imagina. A produção do vinho, a criação da ovelha clonada Dolly e a produção de medicamentos contra o Alzheimer, são alguns dos exemplos conhecidos internacionalmente. As pesquisas na área são bem amplas, elas podem se desenvolver no âmbito da agricultura, medicina, informática, sempre associando a seres vivos, macros e microscópicos.
Adriano Abreu
Em Natal, o que despertou a curiosidade de Goldberg foram as pesquisas relacionadas a bioinformática no projeto Genoma Humano do Câncer, o qual promete em breve permitir aos médicos  examinar o paciente prevendo a sua suscetibilidade para cada tipo de doença e tratamento. Durante a visita, Goldberg concedeu entrevista à  Tribuna do Norte, sobre esta área que reúne conhecimentos antigos e suas aplicações práticas na sociedade. Confira a seguir a entrevista com o biofísico:

Atualmente, quais sãos as principais contribuições da biotecnologia à sociedade?

Vou dar exemplos antigos. Primeiro, um não tão sério, o vinho. Fazer vinho é uma das aplicações mais antigas da biotecnologia. Já a mais séria, destaco a vitória dos aliados na primeira guerra mundial. Na época, quem dominava a tecnologia de produção química,do acetona usado para produzir explosivos,  eram os alemães e os turcos, inimigos dos aliados. Daí, um químico russo descobriu que podia produzir acetona através da fermentação do milho, e foi dessa forma que os aliados conseguiram produzir acetona suficiente para usar  os explosivos e ganhar a guerra com isso.

E no Brasil, quais são os principais avanços?
Um exemplo prático no Brasil é o desenvolvimento de etanol a partir da cana de açúcar; que é uma aplicação da biotecnologia e que tornou o pais mais independente do óleo.  Na área do biocombustível, o Brasil é líder mundial com a descoberta e uso do etanol.

Em relação à medicina, qual impacto que as pesquisas biotecnológicas tem gerado?
Certamente a área da medicina  que mais ganhou com o desenvolvimento da tecnologia foi o câncer.  As terapias convencionais, como a cirurgia, ou quimioterapia, tem suas limitações.  Nós ainda não estamos neste  estágio, mas a tendência é que cada pessoa poderá ter um medicamento  apropriado ao seu corpo. Para isso, a bioinformática é um pilar de facilitação nessas descobertas.

A instituição destes medicamentos personalizados poderá minimizar os efeitos colaterais?

Sim, é muito provável. Se você conhecer de uma forma personalizada a doença do paciente, e produzir um medicamento com estas informações, isso vai ajudar a diminuir o efeito colateral da medicação.

Em questão dos alimentos, como estão sendo aplicadas as pesquisas nesta área?
A manipulação dos alimentos é um assunto bem controverso e existe um debate com dois lados. No primeiro lado, concordo que é muito importante a possibilidade de você ter plantas que vão ser resistentes à parasitas e conseguir crescer bem num ambiente com menos água, ou numa temperatura mais alta. Do outro lado, tem muita gente com   receio que esses produtos geneticamente modificados  sejam perigosos para as pessoas. Mas, particularmente, não vejo motivos para ter medo, são muitos anos de estudo.

O que fazer para evitar o medo e garantir a segurança destes alimentos?
A primeira ação é garantir que não vão colocar nada potencialmente perigoso dentro de uma espécie. A segunda necessidade é o fator econômico, garantir que a utilização daquela planta não vai se tornar inviável financeiramente para o fazendeiro, promovendo uma concorrência injusta, porque muitas vezes essas plantas são muito caras.

As atividades e os resultados das pesquisas biotecnológicas também trazem discussões polêmicas, como a manipulação de embriões. Como o senhor enxerga isso?
Essa é uma questão que não se restringe a biotecnologia, tem mais a ver com os limites da ciência e da tecnologia. Por exemplo, o desenvolvimento de medicamentos prolonga a vida da população de maneira geral, principalmente nos países subdesenvolvidos. No entanto, aumentam a população. Só que, esses países não tem condição de alimentar toda essa população. Então, o que fazemos? A gente não dá o remédio e deixamos elas morrerem, ou damos e deixamos elas viverem passando fome?
Não é tanto a função da ciência responder essas perguntas, pois elas tem um cunho ético, humanístico. Quem tem que dar resposta são outros componentes da sociedade; os filósofos, religiosos...

E quanto à legislação, como está a regulamentação que trata deste tipo de medicina?

A grande maioria dos países tem regras muito rígidas para usar e comercializar uma droga. Na França, passam oito anos desde a produção do medicamento até poder comercializa-lo. Você tem que fazer todos os ensaios clínicos para garantir que a droga não tenha efeito colateral, que ela funciona, que não vai causar problema. No orçamento, o custo do desenvolvimento de uma droga, é em grande parte devido a essa legislação, restrições de  que os governos impõem para que uma droga chegue à prateleira de uma farmácia.

O que há no Rio Grande do Norte de tão interessante na área que atraiu o seu interesse em visitar?
Queria conhecer o grupo do Instituto do Cérebro e tentar fomentar interações com o instituto Weizmann, o qual estou envolvido. Queria ver todas as pesquisas que estão acontecendo aqui, e o grupo de bioinformática do Instituto. Nestes dias já visitei o campus da UFRN e o Instituto do Cérebro e fiquei impressionado. Especialmente, o projeto em que estão usando genômica para entender melhor os aspectos da produção de bioenergia. Tenho um interesse particular nisto porque a companhia que também estou envolvido em São Paulo, a Ominyx, trabalha com a produção de energia usando a biotecnologia.

Então, quer dizer que as pesquisas realizadas aqui no Rio Grande do Norte têm destaque no Brasil?
Não apenas no Brasil, mas esse tipo de pesquisa, pelo impacto, pode ter repercussões internacionais. Realmente, esses projetos estão começando, mas, se avançarem, vão ter um impacto internacional. Outro projeto que conheci é relacionado ao câncer, achando biomarcadores com uma caracterização molecular dos tumores. Isso também tem um impacto mundial para os pacientes que vão se aproveitar disso em seus diagnósticos.
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