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9:07 PM População e poder público se unem contra as drogas | |
Júnior Santos”Percebi
que estava na hora de atingir outros setores da sociedade. Era preciso
união de outras forças” - José Walter Alves Clemente, PM O dia 14 de outubro do ano passado ficou marcado na história dos jucurutuenses. Na madrugada daquela quarta-feira, as polícias Civil e Militar deflagraram a "Operação Leite de Pedra” que culminou com o cumprimento de onze mandados de prisão preventiva e um mandado de apreensão de adolescente. Participaram da operação policiais civis de todo o Estado e Policiais Militares do 6º BPM e da Cavalaria de Caicó. A maioria dos presos na operação tem relação com crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Entre os detidos está Cássio Augusto Souza, vulgo "Cassinho”, conhecido por "tocar o terror” e comandar o tráfico no município. O nome da operação é simbólico e tem duas interpretações. A primeira, faz referência ao fato da ação ter ocorrido ao mesmo tempo que a Polícia Civil vivenciava mais uma greve. Outra interpretação – esse mais emblemática – nos leva a história contada pelos policiais. "Quando a gente pegava um traficante com dinheiro, ele dizia que era pecuarista e o dinheiro foi adquirido com a venda de leite. A gente sabia que isso não era verdade”, explica um agente. "Aquilo era dinheiro da venda de pedra de crack”, completa. Poucos dias após a deflagração da operação, um policial militar resolveu tentar unir forças para acabar de vez com os problemas relacionados à droga na cidade. "Jucurutu unido contra as drogas” é a continuação de um outro projeto, o "Polícia Mirim”, que já foi coordenado por José Walter Alves Clemente, 34 anos. "O primeiro projeto é voltado para adolescentes de 10 a 15 anos. Percebi que estava na hora de atingir outros setores da sociedade. Era preciso união de outras forças”, esclarece o policial. Prefeitura, Ministério Público, Polícias Civil e Militar, Tribunal de Justiça, instituições religiosas e imprensa local abraçaram a causa. Há quatro meses, o projeto está nas ruas. São faixas e cartazes com frases de apologia ao combate às drogas. Mas não é só isso. Os organizadores vão visitar as escolas do município e – na ação mais pontual do projeto – a Prefeitura disponibiliza o encaminhamento de 10 pessoas para um casa de acolhimento para dependentes químicos em Paulista-PB. "Serão encaminhados aqueles que desejarem o tratamento. Não vamos obrigar ninguém a nada”, lembra José Walter. Assim como acontece na maioria dos municípios do Rio Grande do Norte, Jucurutu não conta com uma rede de assistência para dependentes químicos. A cidade também não figura entre as 14 que possuem Conselho Municipal Antidroga, mas conta com o empenho de poucos que querem mudar o cenário. "A gente vai ver o resultado desse trabalho lá na frente. Espero que no fim do ano a cidade seja outra”, diz o policial. Segundo o atual delegado da cidade, Francisco Carvalho, todos as pessoas presas na "Operação Leite de Pedra” continuam detidas na Penitenciária Estadual do Seridó, "Pereirão”, em Caicó, onde estão à disposição da Justiça. "Hoje, a situação está mais tranquila. Ainda temos alguns problemas, mas serão resolvidos em breve”, avisa o delegado. DEPOIMENTOS Jucurutu Virgulino Firmino de Araújo, 27 anos Júnior Santos O ex-lavador de carros, Virgulino Firmino de Araújo, 27 anos, nasceu e sempre morou em Jucurutu. Com pouco mais de 20 anos, foi para Natal. Foi na capital do Estado onde descobriu o mundo das drogas. Na "cidade grande”, ficou três anos. Em 2010, voltou para a cidade de origem levando as experiências negativas e o vício em crack. Foi detido por cometer pequenos furtos antes de voltar à casa dos pais. Não achou dificuldades para encontrar a droga em Jucurutu. "Nem precisava sair de casa. Tinha uma boca aqui perto”, revela. As marcas do uso contínuo da droga deixaram marcas no corpo. Olhos fundos, pele manchada, faltam dentes na boca. A aparência é a de um homem com pelo menos 40 anos. Depois de "sofrer muito” e perder "tudo que tinha”, Virgulino decidiu mudar. Para tanto, conta com a ajuda do policial José Walter. Através do projeto "Jucurutu unido contra as drogas”, Virgulino conseguiu vaga numa casa de acolhimentos para dependentes químicos. "Quero sair dessa. Essa vida não serve para ninguém”, diz após confessar que acendeu "a última pedra”, há menos de 20 dias. Jucurutu Danilo Santos da Silva, 22 anos Júnior Santos O corpo franzino de Danilo Santos da Silva, 22 anos, denuncia os mais de quatro anos de vício em vários tipos de drogas. Natural de Aracaju/SE, Danilo foi morar em Jucurutu logo cedo. Aos 18 anos, experimentou o primeiro cigarro de maconha. O "barato” da erva logo não mais o satisfazia. "Queria algo mais forte”, diz. E para se satisfazer, buscou drogas mais pesadas. Chegou a experimentar cocaína, mas foi a pedra do crack onde o vício se acentuou. "Aí foi minha destruição”, conta. Foi morar na cidade onde nasceu e lá aprendeu o ofício de marceneiro. Com o dinheiro que ganhava, comprava a droga. Durante um momento de lucidez, encontrou uma jovem com a qual namorou, casou e teve um filho. Passou algum tempo longe das drogas, mas o corpo exigia novas experiências. Voltou para Jucurutu com a família constituída no estado sergipano. Na casa dos pais, Danilo teve a oportunidade de "ficar limpo”, mas as facilidades no interior eram inúmeras e foi fácil "cair em desgraça” mais uma vez. A esposa foi embora e levou o filho. "Perdi o que tinha de mais precioso”, lamenta. Danilo nunca foi preso e diz que só furtou produtos de dentro de casa. Já foi internado duas vezes em casas de acolhimento para dependentes químicos – em Macau e Caicó – e quer, mais uma vez, largar o vício. Vai para a casa de acolhimento na Paraíba, através do projeto "Jucurutu unido contra as drogas” e acredita que, dessa vez, vai dar certo. "Quero voltar a ver meu filho, conquistar minha família de volta. Já me deram várias oportunidades e não aproveitei. Dessa vez, será diferente”, afirma. | |
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